
Após um último capítulo
Perder talvez seja a palavra mais ambígua e confusa de nosso vocabulário. Perdemo-nos no tempo, na roubalheira da política, nas memórias, mas, sobretudo, na perda de um ente querido. Até onde estamos preparados para as perdas? Friedrich Nietzsche disse, certa vez, por aí que “O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte”. E caso essa morte seja de outra pessoa próxima a você?
A morte como todos bem sabem não escolhe sexo, cor, classe social, opção sexual ou nível de instrução. É outra palavra que de tão forte é carregada de outros sentimentos, como a dor, a saudade, e novamente o sentimento de perda. A dor da perda não possui as 10 características semiológicas, mas é do tipo crônica, de forte intensidade, que se inicia após as lembranças, irradia para a alma, com poucos fatores de melhora. O tratamento é difícil e o único remédio não é comprado em farmácias, possui ação lenta e chama-se “tempo”.
De fato as pessoas não estão acostumadas com a perda, ainda mais quanto são consecutivas ou de grande número. Lastimar, rogar pragas aos céus, chorar até perder a noção da realidade, são, quem sabe, os primeiros sinais que indicam que você realmente amou aquela pessoa que, infelizmente, já não faz mais parte do mundo dos vivos. Qual a solução? Continuar chorando? Suicídio? Depressão?
Penso, particularmente, que viemos ao mundo por um propósito, que nascemos pra cumprir algo nessa vida. Acredito que não nasceríamos pura e simplesmente pra pisar na terra e deixar de pisar sem marcá-la de alguma forma. Penso também que os únicos que sofrem com a morte somos nós, os “vivos”. Vivo dizendo, e digo vivendo que estamos aqui somente de passagem, e que aproveitamos tudo que uma pessoa pode nos oferecer. Foram muitos os sorrisos, muitas as aventuras, muitas brigas, muitas emoções. Aquela pessoa que já não está entre nós já completou seu ciclo, daqui a pouco você também completará o seu.
De uma forma metafórica a vida é como se fosse um livro. A capa é sua aparência, os capítulos são as fases de sua vida, e o enredo é sua própria trajetória. Como todo Best-sellers, existem mortes e suas superações, momentos de clímax, suspenses e outros desarranjares da história. A Morte então, é a última vilã que retira de você, alguém em seu último capítulo, e sadicamente lhe faz uma pergunta pra saber se você conseguirá ou não superar essa perda: Pronto, eu o desafio a virar essa página, desafio aceito ou não?
Autor: Álvaro Sales