
Coluna de Paula Rios (Turma 61)
Poema: Aula de Anatomia (02/06/2014)
Cadáveres múltiplos
Cadáveres mutilados
Ossos, nervos, músculos e órgãos
Fálico seccionado de visões privilegiadas
Passa o nojo, passa a novidade
Sem o asco do visco glicerinado
Esquece-se as luvas, lembra-se da nota
Preciso estudar, de alguma forma recuperar
Acaba a aula, sozinha no laboratório
Anotações dispersas: “Não escrevi isso!”
Forço, recordo, esqueço, reviso
Decoro, decoro, decoro!
Com as mãos nuas, vasculho sequências
Lambuzado com óleo que conserva o corpo
Conserva? Sem chance!
Quando nenhum de seus familiares se recordaria
De pele pigmentada ou de pêlos oxidados
Não é mais meu filho, nem meu irmão!
O fio de estudo totalmente quebrado...
Charge: Copa do Mundo 2014 (02/06/2014)
Vou-me embora (06/05/2014)
O cantor Cazuza, o escritor de ficção científica Isaac Asimov, o filósofo francês Michel Foucault, o tenista Arthur Ashe, a atriz Sandra Bréa; o que interliga esses indivíduos?
A resposta está na formação de uma categoria minoritária e marcada pela discriminação, de uma condição que desde a década de 80 vem aterrorizando a população mundial tanto por sua gravidade quanto pela dificuldade de tratamento. Trata-se de pessoas atingidas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
A comunidade científica vem, por muito tempo, tentando criar alternativas mais eficazes para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes (diminuir os efeitos colaterais dos antirretrovirais tão conhecidos), e até mesmo sua cura, algo dificultado pela ação dos vírus, que destroem os linfócitos T ativos, e replicam-se nos inativos. Apesar das dificuldades, a sociedade e a mídia clamam por resultados positivos para essa doença que foi um divisor na história da humanidade.
Com tanto investimento e pressão da sociedade, os pesquisadores do grupo CHERUB (Collaborative HIV Eradication of Viral Reservoirs), em seus estudos criaram uma possibilidade para a cura dessa moléstia. No tratamento tradicional, os linfócitos T, que são responsáveis por coordenar a ação do sistema imunológico, são invadidos pelo vírus, que invertem a função da célula para a produção de novos infectantes. Os antirretrovirais conseguem então bloquear a multiplicação do HIV nos linfócitos ativos, entretanto, quando uma célula inativa começa a ter atividade ela se multiplica juntamente com o código genético do vírus, criando uma nova leva de HIV.
O tratamento consagrado tem eficácia paliativa, já que apenas controla a doença, sem conseguir melhorar o prognóstico do paciente. Por outro lado, a nova tática do grupo de imunologistas consiste em ativar os linfócitos T “escondidos” com um novo medicamento (vorinostat), para que os antirretrovirais consigam acabar com os reservatórios de vírus. O problema desse tratamento é que como os vírus têm que estar em células ativas, a sua taxa no sangue precisa estar muito alta antes que os remédios consigam dizimá-los.
Outra dificuldade baseia-se no dilema ético dos grupos de estudo, em que os pacientes com a condição em controle pelo uso de antirretrovirais tem que se expor a uma doença letal como a AIDS para ter uma possibilidade de cura. Mesmo assim, os pesquisadores estão confiantes com os resultados já alcançados; sabem que ainda falta um longo caminho a ser percorrido, mas que o rumo foi definido. Em somatório, a busca por vacinas e as campanhas de prevenção ainda devem reinar como escudo nessa luta herculínea contra esse mal do século XX que se arrasta para o XXI, afinal não se pode fugir para uma Pasárgada idealizada livre dos problemas reais.